Não é irrelevante, mesmo em nosso tempo, quando carecemos do Beit Hamikdash, estudar as precisões “toratísticas” sobre a construção e a operação do santuário. O conceito judaico daquilo que deveria ser um santuário é irredutivelmente relacionado ao conceito hebreu de casa: um local que se oferece aquilo que se possui, e que se consagra o espaço como ele é. Apesar da distância histórica e, portanto, psicológica, que nos separa do Tabernáculo e todas as leis relativas a oferendas e sacrifícios, é possível – e até necessário – aprender sobre o Tabernáculo, o santuário construído pelos nossos antepassados no deserto, com todos seus inúmeros ensinamentos e valores que permanecem válidos de maneira intacta até os dias de hoje. Não menos do que um ponto central de oferendas rituais, o Mishkan foi a fundação da memória do Povo. Um centro espiritual cujo propósito e missão era manter viva a consciência do Povo de Israel, respeitando os compromissos e obrigações adquiridos aos pés do Monte Sinai.
O Tabernáculo é um santuário carregado pelo povo para todos os lados. Não é D’us que precisa dele, mas sim, os homens. São eles que o construíram como uma linha direta de comunicação entre o puramente espiritual com a existência cotidiana, o humano, a existência temporal. De alguma forma, o Tabernáculo é uma concessão de D’us à natureza do homem. É o que o Redentor fornece ao homem, que com todas suas fraquezas, necessita um elemento material para lembrar suas funções transcendentais.
O Tabernáculo inclui, por sua vez, quase todos os elementos que fazem de um espaço fechado, um lar. Uma mesa, uma caixa (ou armário), uma pia, um lustre… Tudo, com a exceção das camas ou de qualquer outro objeto no qual possa-se se apoiar. Estes seriam móveis “incomuns” na casa e no santuário de D’us. Tal similaridade tende a revelar que cada casa, e cada lar, deve e pode – na concepção judaica – ser equiparada a um santuário. O “Baal Habait ” (proprietário) deve tentar garantir que sua casa tenha o devido grau de pureza, espiritualidade, propensão à justiça, etc., que se encontrava no Tabernáculo, no templo de Jerusalém. Inversamente, esta comparação material entre o santuário e o lar demonstra que o homem pode e deve sentir-se no Tabernáculo, como se estivesse na sua própria casa.
A falta de camas, ou de itens similares, no Mishkan, demonstra que a visita de cada homem no Tabernáculo deve ser sempre algo novo. O dinamismo e a mudança são as únicas evidências aceitáveis frente às expectativas perfeccionistas de renovação espiritual permanente, que inspira a Torá. A cama, o lugar onde o homem dorme, representa o fixo e o imutável, enquanto que, o Tabernáculo, deve ser um lugar de permanente renovação espiritual para o homem judeu.
Hoje em dia, sem o Mishkan e o Mikdash, não possuímos nenhum lugar no qual a santidade possa ser atribuída ao nosso compromisso diário com o Criador. Ao invés disso, instituímos o “Beit HaKnesset” (lugar de congregação), um pequeno santuário em que expressamos as funções que uma vez aceitamos em prol de um destino mais importante. O Beit HaKnesset tem para nós – como um local de oração, estudo e reflexão – este mesmo significado. Um lugar onde, mesmo sem nenhuma oportunidade de descansar, o homem se sente em casa.