Pois vós sois um povo santo para o Eterno vosso De’s. O Eterno vosso De’s escolheu-vos por povo Seu entre todos os povos que há sobre a face da terra. O Eterno comprazeu-se convosco e vos escolheu, não porque éreis mais numerosos que os demais povos, na realidade éreis o mais pequeno, mas sim porque o Eterno vos amava e porque quis cumprir o juramento que tinha feito a vossos pais. Por isso vos arrancou da mão do faraó, rei do Egito, redimindo-vos da casa da servidão. Tende em conta, pois, que só o Eterno vosso De’s, um De’s fiel que guarda o Pacto e é piedoso até à milésima geração com quem cumpre os seus mandamentos, e dá o seu merecido aos que o aborrecem… (Deuteronómio 7, 1-10)
Muito se tem escrito sobre a ideia de Israel como povo escolhido (Am Segulá). Em cada geração e até à época atual, esta ideia tem sido objeto de diferentes reflexões.
Algumas vezes por discrepância, outras por evasão; algumas vezes por identificação entusiasta, e muitas vezes pela missão encomendada a toda a Humanidade. Evidentemente, o tema teve explicações cósmicas, históricas, biológicas espirituais, filosóficas e cabalísticas.
Nas diferentes correntes do pensamento judaico existem abordagens que tentam descrever a posição especial que caracteriza o povo de Israel e que o coroa como um povo virtuoso e escolhido.
Há quem argumente que a peculiaridade do povo de Israel emerge de uma virtude que não existe em pessoas não judias. Esta orientação coloca a natureza do indivíduo judeu como algo especial, e considera que o judeu, sem muito esforço nem ações especiais, ao nascer dentro do povo judeu, tem qualidades distintivas. Outros dizem que a peculiaridade do povo de Israel está na dimensão empírica, pois o destino do povo judeu é singular, e não existe nenhum tipo de analogia entre ele e outras nações. Mas o que é particular do povo judeu reside na sua história, que parece ser estranha quando comparada com a história da humanidade.
Há quem veja a essência do povo escolhido em conteúdos, valores e obrigações que transcendem com a sua crença. Segundo esta orientação, não existe nenhuma peculiaridade na natureza do povo; ela reside na sua vida e na sua fé.
Outros opinam que só depois de cumprir com a sua missão redentora é que o povo judeu poderá assumir a sua condição de povo escolhido. O povo de Israel, mesmo no caso de ser o povo escolhido, deve pôr-se a prova, porque a sua eleição não é predestinada. De acordo com esta posição, o povo de Israel deverá consegui-la pelos seus méritos.
O que fica claro, principalmente, é que a eleição do povo judeu não responde a regras de carácter biológico.
O carácter particular do povo de Israel reside na necessidade de entender que De’s o escolheu para o libertar do jugo do Egito, entregou-lhe as tábuas da lei e deu-lhe morada na Terra Prometida. Estes argumentos ratificam a causa da eleição e disposição da Providência para com o povo de Israel entre todos os povos do mundo.
Assim como lemos nesta parashá, não foi por serem numerosos nem pelo seu saber extraordinário, nem pela sua virtude inata ou histórica que o povo foi assinalado entre nós. Foi sim por amor, o amor que oferece uma resposta ao amor divino. Abraão Isaac e Jacob foram devotos de De’s e andaram nos Seus caminhos. Por isso De’s assinou um pacto com eles e prometeu-lhes distinguir os seus descendentes.
Eleição e preferência são uma ação de amor que impõe amor.
Na Bíblia não se observam elogios por parte de De’s ao povo judeu; pelo contrário, os factos que o merecem são acompanhados das críticas mais duras e das zangas mais intensas.
A definição clássica alega que o povo judeu foi escolhido pela sua religião e pela sua cultura, mas, sobretudo, pela sua identidade nacional. A integração de religião e nacionalidade confirmam a sua existência até aos nossos dias.
A ação suprema de De’s evidencia-se no facto de que redimiu os judeus da escravidão dando-lhes a Torá, para que se transformassem num povo venerável com função sacerdotal.
A questão que se refere à influência da missão terrena dos judeus sobre outros povos é um tema de constante discussão. Qual é o conteúdo de uma união e compromisso de tal magnitude? Realizar-se como povo que preenche um objetivo histórico especial: “reinado de sacerdotes e povo consagrado”.
O povo judeu foi designado por De’s para redimir o dia-a-dia a vida do Homem, cumprindo com os mandatos divinos, e sendo zeloso da sua moral e dos preceitos do seu povo.
O desígnio de predestinado está circunscrito à condição de cumprir os mandamentos e a vontade divina, povoando a terra prometida, conseguindo segurança, assegurando esplendor e prosperidade, com liberdade e respeito por todos.
De’s, através da Sua existência, transcende, influenciando o exercício das ações que povo escolhido realiza, restringindo os seus atos nas prescrições bíblicas que o caracterizam. Não está nas suas intenções influenciar outros povos.
De’s, na Sua omnipotência, necessita de um povo pequeno para fazer história, não pela força e pela servidão, mas sim pelo espírito que o acompanha: “não por serem numerosos entre os povos foram escolhidos por De’s, porque vocês são menos.”
Somente um povo que pelos seus atos testemunha a existência infinita de De’s pode ser o povo irrepreensível, digno de ser escolhido.
As explicações atuais ratificam que o povo de Israel não foi investido nem pelo seu conhecimento nem pelo seu credo. Muito pelo contrário, foi designado para que entenda, conheça e creia; para que ao ser escolhido aprenda com a sua história. Pela sua própria comparência perante os desígnios da história, a sua presença testemunha a existência suprema do Todo-poderoso.
Outra conceção manifesta que o povo de Israel foi depositário de uma missão de moral e justiça que redima o mundo.
O processo “pedagógico“ de De’s não se dirigia a todos por igual. A sua intenção é justamente escolher um povo que se transforme num exemplo para todos os povos, para que aprendam com ele e reconheçam o caminho a seguir.
O povo de Israel tem um destino e uma missão comuns.
O destino coloca uma situação predeterminada, sobre a qual não existe domínio. A escravidão no Egito é exemplo de um facto que se impôs ao nosso povo, mas que se transformou num acontecimento de destino coletivo. Pelo contrário, a aliança do monte Sinai marcou o desígnio do povo judeu ao longo de toda sua história.
A Revelação do monte Sinai não se refere a uma aliança anacrónica, válida apenas para a geração do deserto, ou para os judeus de era de Israel nem da época do primeiro e segundo Templos. Sem dúvida, reconhece a consistência nacional de todo o povo judeu, porque o estabelece e o congrega ao redor de um só credo, uma só convicção, uma só cultura e uma única missão.